2.01.2006

Dia 03.

"Kendo não é auto-ajuda. Kendo é muito mais do que isso. Praticando Kendo, você não será mais rico, mais feliz, mais inteligente. Kendo não ensina essas coisas. Você deve aprender primeiro o Kendo, pratica-lo direito. Talvez depois essa compreensão te ajude nessas coisas."

Cito de memória, então as palavras podem não ser exatamente essas. Foi a lição de fim de aula do Sensei.

Antes disso, falando da parte prática, ele falou que os golpes não devem ser fortes. Mas devem.

Isso me lembrou do Aikido, particularmente do que o Koichi Tohei fala sobre os 4 princípios de unificação de mente. Eu reparei em mim mesmo e nos alunos mais graduados uma mania de quando estamos tentando fazer as técnicas certas, de usar mais e mais força. Isso me pareceu resultar em algumas coisas:

- Diminuição de velocidade dos golpes. Toda vez que você golpeia com força, é difícil retomar o kamae para estar pronto para desferir outro.
- Enfeiamento. O uso da força resulta em um golpe bruto, com menos beleza e mais agressividade.
- Perda de foco. Quando estou me esforçando para me "corrigir" e uso cada vez mais força, a visão se estreita e torna-se difícil localizar em quê exatamente estou errando, quando mais corrigir. Além do mais, do esforço exagerado nasce junto uma insegurança que na minha opnião mina qualquer possibilidade de acerto.

O Sensei tem sido atencioso, dedica alguns minutos sempre aos alunos menos graduados. Eu tenho sido agraciado com isso. É altamente gratificante ter alguém com tanto conhecimento fazendo questão de guiar meus passos. Ele poderia muito bem, designar um "senpai" (aluno mais experiente) para isso. É uma honra e procuro dar o melhor de mim para merece-la.

Hoje tenho que resolver algumas coisas relativas a mudança de apartamento. Organizar a minha bagunça que sei estar incomodando uma pessoa da casa. É importante fazer as coisas certas em toda a vida.

Antes de começar a treinar, um dia que fui a um happy hour do pessoal do dojo, Sensei falou que não era problema faltar nas aulas desde que soubéssemos estar fazendo algo importante, não qualquer coisa. Acho que hoje é o caso. Organizar minhas coisas é importante por várias razões.

Primeiro para não quebrar a Wa (harmonia) do lugar onde moro. Muitas pessoas em uma mesma casa (6!) torna um pouco difícil a convivência, logo devo me esforçar ao máximo para contribuir. Segundo, organizar as minhas coisas é também um exercício de organizar a mente, sincronizá-la com as mudanças que tem acontecido e fazer planos para as que estão por acontecer. Essa energia colocada em "organização" acaba por inércia se estendendo para outros setores da vida.

Acho que não haverá aula sábado, tem campeonato em São Carlos, estou tentando combinar com um colega de trabalho (que é de lá) para ir assistir. Se quero levar esse caminho a sério, faz-se necessário assumir mais e mais compromissos (internos e externos) com a arte, com os companheiros de prática, com o Kan (escola).

Por hoje é só.