7.19.2007

O homem certo.

Por sugestão de um dos meus amigos mais queridos resolvi postar isso aqui:

O homem certo.

O homem certo é sedutor. Ele te seduz com discrição, sem pressa. Pisca pra você, esbarra em você, toca em você como se vocês fossem íntimos sem nunca ser vulgar.
O homem certo é decidido. Não te trata como segunda nem terceira opção. Ele te corteja a vista de todos, deixa claro que você é a primeira opção.
O homem certo tem olhar profundo. Troca olhares com você o tempo todo. Você se sente despida quando ele te olha não porque ele te olhe com desejo mas porque tem certeza que ele sabe o que você está pensando e sentindo.
O homem certo é paciente. Ele não precisa te ter em um dia ou uma semana. Ele quer passar o resto da vida com você e não se importa se você precisa ter um pouco mais de certeza.
O homem certo sorri. Constantemente. Mas quando ele sorri pra você é como o nascer do sol. Espontâneo, perfeito.
O homem certo é comunicativo. Não dos assuntos aos quais você está tão acostumada. Não "chaveca". Ele fala de si mesmo, do que pensa, do que sente. Faz você se sentir por breves momentos conectada a ele. Presta atenção quando você fala como se fosse a coisa mais importante do mundo. E quando o silêncio vem ele diz algo que te faz finalmente se sentir confortável.
O homem certo é respeitador. Mesmo brincalhão e descontraído você sente que ele é um cavalheiro e que você é a dama dele.
O homem certo confia em Deus e, por isso, faz você confiar nele também.
E finalmente, o homem certo te ama. E a essa altura do campeonato, depois de perceber tudo isso, você também.

Moreno Garcia

10.15.2006

Era Frankl um samurai?

"O que realmente importa não é o que nós esperamos da vida mas o que a vida espera de nós. Nós precisamos parar de questionar qual o sentido da vida mas, ao contrário, pensar em nós mesmo como sendo questionados pela vida - diáriamente e a cada hora. Nosso questionamento deve consistir não em fala e meditação, mas no correto agir e na correta conduta. O sentido final da vida é tomar a responsabilidade de encontrar a resposta correta aos problemas e cumprir as tarefas que são constantemente dadas para cada indivíduo."

Viktor Frankl

8.27.2006

Katatetori

Após a meditação (mokuso), as reverências iniciais (Rei - o "r" pronuncia-se como em arara) e o aquecimento, meu Senpai (instrutor sênior) começava a aula sempre com a mesma técnica. Técnica essa que consistia em, ao ser segurado em um dos braços, girar o corpo de forma a se colocar ao lado do oponente. Controlando o Uke através da própria força dele.
A despeito de quão forte o oponente seja, ele não consegue evitar que o Nague se movimente de forma livre. Ao contrário, quanto mais força ele faça para segurar e impedir o Nague de se movimentar, mais o Uke fica preso e sujeito a vontade do Nague.

Geralmente o Senpai escolhia o aluno mais forte presente como Uke para demonstrar. Antes mesmo de iniciar a técnica, após o Uke segurar o seu braço ele perguntava (dirigindo-se aos alunos mais novos):

- Quem está preso?

A resposta era sempre:

- Você, ué.

Ele sorria e executava a técnica o mais lenta e suavemente possível. Do outro lado, o Uke se esforçava visivelmente para tentar impedi-lo. Suava, bufava, ficava roxo (algumas vezes, a mão do senpai também ficava roxa de tanto que o Uke apertava seu braço). Não importando quanta força ele usasse, era inútil. Ao final da técnica, a cena era quase cômica. De um lado o instrutor sorrindo, em pé, completamente relaxado. Do outro, o Uke, com os músculos completamente tensionados, quase ajoelhado e totalmente a mercê do Nague.

O Senpai perguntava novamente:

- Quem está preso?

E os novatos respondiam em uníssono:

- Ele.

Quantas vezes sofremos simplesmente por estarmos presos? Apegados a pessoas, lugares, sentimentos, acreditamos estar prendendo, quando na verdade somos nós os prisioneiros. Quanto mais tentamos controlar, mais somos controlados. Quanto mais força opomos, menos autonomia temos.

No filme "Clube da Luta" Tyler Durden constata: Quando possuimos muitas coisas, essas coisas acabam nos possuindo. Quantas pessoas são escravas de "ter o poder"?

Lembro-me de um dia em que Senpai mostrou o seguinte.

Colocando-se na posição de Uke, segurou meu braço. Quando comecei a executar a técnica, ele simplesmente soltou o meu braço e sorriu. Eu não poderia controlá-lo se ele não me segurasse. A lição ficou clara.

Libertar às vezes é a melhor forma de tornar-se livre.

Domoarigato Senpai.

Esse post é para um amigo de Santos e uma amiga de São Paulo que trilham caminhos muito semelhantes ao meu. É uma honra poder compartilhar essa trilha com vocês. Arigato.

8.22.2006

O caminho da Auto-confiança

1. Eu nunca ajo contrário à moralidade tradicional.
2. Eu não sou parcial com nada e nem com ninguém.
3. Eu nunca tento arrebatar um momento de sossego.
4. Eu penso humildemente de mim e grandemente para o público.
5. Sou inteiramente livre de ganância em toda minha vida.
6. Eu nunca lamento o que já fiz.
7. Eu nunca invejo a boa sorte dos outros, mesmo estando com má sorte.
8. Eu nunca aflijo-me por qualquer um, qualquer coisa ou qualquer tempo.
9. Eu nunca censuro ninguém, ou me censuro para alguém.
10. Eu nunca sonho em apaixonar-me por uma mulher.
11. Gostar e não gostar de algo, é um sentimento que não tenho.
12. Qualquer que seja a minha moradia, eu não tenho nenhuma objeção à ela.
13. Eu nunca desejo um alimento saboroso.
14. Eu nunca tenho objetos antigos ou curiosos em meu poder.
15. Eu nunca faço purificação ou obstinência para proteger-me do mal.
16. Eu não tenho apreço por nenhum objeto, exceto espadas e outras armas.
17. Eu nunca daria minha vida por uma causa injusta.
18. Eu nunca desejo possuir bens que tornem minha velhice confortável.
19. Eu adoro deuses e budas, mas nunca penso em depender deles.
20. Eu prefiro me matar do que desonrar meu bom nome.
21. Nunca, nem por um momento sequer, meu coração e minha alma desviaram-se do caminho da espada.

12 de maio de 1645 - Shinmen Musashi

http://www.madeincuritiba.com.br/musashi/musashi.htm

7.15.2006

AMEI

6.24.2006

Centro e Periferia , (Nague e Uke) e o ego.

No Aikidô, arte marcial fundada por Morihei Ueshiba, é necessário, no mínimo, dois praticantes.

A grosso modo:

O Uke faz o papel de atacante e é aquele que recebe a técnica.
O Nague desempenha o papel de defensor e é aquele que aplica a técnica no Uke.

Por isso, desde o princípio o iniciante em Aikidô deve treinar Ukemis (técnicas de queda), de modo que possa desempenhar o papel de Uke de maneira adequada e segura. Nas instruções ao iniciante juntamente com o Ukemi são enfatizados:

Taisabaki - Movimentação. Técnicas de deslocamento, "esquivas" e movimentos tanto em pé quanto em seiza (ajoelhado).
Reigi - Etiqueta, reverência e respeito.

Não vou me aprofundar no tema do iniciante ainda. Gostaria de discorrer um pouco a respeito de alguns "insights" que tive recentemente sobre o Uke e o Nague.

No Uke, inicia-se primeiramente o ataque (a princípio segurando um ou os dois braços do Nague, por motivos didáticos, depois evoluindo para socos, chutes, etc) representando a "desarmonia", o que faz com que o atacante não esteja de acordo com os desígnios divinos, cheio de ego e vontade de vencer.
Já o Nague recebe o ataque sem confronto direto, através de uma esquiva ou "cedendo" ao ataque de forma que possa tomar o controle dos movimentos do Uke através de "Aiki" (técnicas nas quais o Nague toma o controle do próprio ataque, força e corpo do Uke). Nesse momento ele se torna o centro da técnica e dos movimentos podendo escolher o destino do Uke que pode ser arremessado, ter um membro quebrado, receber um golpe traumático ou ainda ser imobilizado com pouco ou nenhum esforço.

Quando o Nague começa a aplicar a técnica o Uke tem por obrigação oferecer resistência para que o Nague possa se aperfeiçoar e detectar eventuais falhas. No entanto, a partir de determinado ponto, a técnica "entra", como costumamos dizer no treino. A partir daquele ponto, oferecer resistência só irá causar mais dor ao Uke, tornar o movimento todo "quebrado", sem fluidez, o que pode provocar uma lesão. É extremamente comum os iniciantes se machucarem por ainda não terem encontrado o ponto de "entrada" ou por oferecerem resitência além do devido por quererem vencer ou testar o aluno mais experiente ou o Sensei.

E é nesse "sentimento" que tenho pensado.

Durante a vida, tomamos rumos que não deveríamos, fazemos coisas erradas e, conseqüentemente, entramos em desarmonia com a vontade divina. Essa por sua vez, como um Nague, nos aplica a técnica necessária para que retornemos à harmonia. Nesse processo, às vezes resistimos fazendo com que o sofrimento prolongue-se e, desse modo, o "movimento" não chega a uma conclusão.
Assim como no Aikido, quando nossa vida chega a esse ponto, não notamos que resistir é inútil, que estamos na periferia do movimento como o perímetro de uma roda girando em alta velocidade. Falta aceitação. Não querendo ser "vencidos", cheios de ego, queremos ser os senhores de nosso destino apenas desejando obter prazer e fugir da dor, como epicuristas imbecis, nos nivelando em discernimento a cães. É inútil desejar que nossa vida transcorra sempre como desejamos. É como desejar que o sol não nasça. Determinadas coisas estão dentro do nosso círculo de poder, outras não.

Também existe "Henka Waza" (virar, ou inverter a técnica), que são técnicas avançadas e geralmente só treinadas por faixas pretas em diante. A razão para a exigência da faixa preta antes de se treinar esse tipo de técnica é que o aikidoka tem de ser tanto um bom uke quando um bom nague para poder aplicá-la.

Após o ponto de "entrada", a melhor maneira do Uke se proteger é relaxar, "entregar-se". Acompanhar o movimento procurando se adaptar ao máximo à técnica do Nague. Dessa forma ele consegue fazer as quedas de maneira adequada evitando contusões, quebramentos e golpes traumáticos. Quando nesse estado de aceitação, que ao mesmo tempo é um estado de alerta e percepção ampliada em níveis mais altos, o Uke consegue perceber mesmo após o ponto de "entrada", caso o nague perca o domínio do movimento. Então usa do seu "Aiki" para inverter a posição e aplicar a técnica. Dessa forma o Uke torna-se Nague, passando da periferia do movimento ao centro e tomando o controle.

Quando isso é compreendido, fica mais fácil não só praticar Aikidô. É mais fácil viver.

5.08.2006

Do espírito da casta samuraica - A Espada imaterial

Inspirado num texto que escrevi em agosto de 2004, inauguro minha participação neste blog.

Uma das acepções do Budô indica que ele é o rumo espiritual que todo guerreiro deve imprimir à sua vida. Aos que não são rigorosamente guerreiros, o Budô também tem sua função porque ensina sobre a batalha de cada dia que os seres humanos têm de enfrentar, donde poucos saem vitoriosos. Assim como todos os atributos humanos, a inclinação à vida combativa não nasce com todas as pessoas. Alguns espíritos tem tendência natural à belicosidade e podem se tornar brigosos. Se junto a essa tendência houver um certo retraimento e introspecção meditiva de modo a levar o sujeito à reflexão sobre os pensamentos fundamentais que o movem, haverá grande possibilidade dele se tornar um samurai. Samurai no sentido que aqui emprego, é o que decorreu das minhas vivências no Budô, e o que aprendi com meu Sensei. O texto que vou reproduzir traz um pouco da minha visão sobre o assunto, anterior ao meu treinamento de Kendô mas bem encaminhada, segundo percebo agora.

Lá vai:

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Citações

"Dizem que o caminho do guerreiro é [o] caminho da pena (ou da palavra) e da espada, e que ele deve apreciar ambas as coisas. Mesmo que um homem não possua nenhum talento natural, pode tornar-se um guerreiro se aderir assiduamenteàs duas divisões do Caminho"


"O princípio da estratégia é ter uma coisa, conhecer dez mil coisas"


"Familiarize-se com todas as artes... [e]... Conheça os Caminhos de todas as profissões"

"Controle os ânimos; não se permita extremos. Tanto em êxtase quanto em profunda tristeza o espírito enfraquece."


"Cultive a sabedoria e o próprio espírito. Dê polimento à sabedoria: aprenda sobre a justiça, distinga entre o bem e o mal, estude os Caminhos de diferentes artes, uma por vez."


O Livro dos Cinco Anéis - Miyamoto Musashi

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No Japão, por volta do século XVII, a perícia com a espada e a leitura dos clássicos do período Tokugawa formava o modus vivendi da jovem nobreza. Era a casta da pena e da espada. Ela tornou o Japão célebre pelos seus feitos em guerras.

O citado Mestre Musashi era um Ronin vivendo numa época cheia de Ronins. Estes guerreiros vagantes e sem destino acabavam se tornando perigosos. Tornavam-se cada vez mais uma ameaça ao próprio povo [que deveriam defender]. Eles não compreendiam que a espada que eles viam é um analogante. [A compreensão mais valiosa estava no analogado - esse era o segredo dos Mestres]. Os guerreiros comuns davam maior valor à espada do que à pena. Musashi compreendeu. Utilizou o Caminho em todos os aspectos de sua vida, se destacando no Desenho e Pintura, na Literatura, na Caligrafia, na Política, na Espiritualidade, na Música - diz-se que Musashi tem talentosas composições -, na própria espada analogante etc. Hoje não há lugar para as espadas analogantes. A consistência da Estratégia só pode ser experimentada pela Espada imaterial.

Viver sem interrupções essa compreensão é se tornar um Samurai. A isso eu aspiro.

3.01.2006

Paciência.

Tem estações para plantar, estações para colher... E entre uma e outra, Paciência.

Os sonhos estão mais calmos o que significa que o interior está mais calmo. Meditar algumas vezes por semana tem ajudado. O refúgio novo também.

Não importa o que acontece por fora.

"No meio do barulho e da agitação, caminha tranquilamente entre a inquietude e a pressa, pensando na paz que você pode encontrar no silêncio." - Desideratha

Acho que é isso.

2.25.2006

Ódio

Acordo suado, ofegante, com ódio. Sonhei que briguei, feio.
Um fantasma do passado, discussões sobre erros distantes. Maldito seja o subconsciente.

Levanto, vou ao banheiro para ficar menos "enfezado". Lavo o rosto, volto pra cama.
Um clique me faz refletir, tento me alçar acima do óbvio e volto a dormir refletindo sobre o sonho, sobre o ódio.
O ser humano tem essa mania. De querer mostrar para os outros que estão errados na porrada. Tento fixar no meu coração o fato de que não podemos ajudar as pessoas quando elas não querem se ajudar. Respeitar o livre-arbítrio alheio. Paciência e confiança no ser humano e mais importante, na centelha divina que tem dentro de cada um.

As pessoas mudam sim. Primeiro elas tem que passar pelos seus processos internos e externos. Quando a mudança não nasce do impulso genuíno de querer ser algo, ou alguém melhor, ela terá que ser motivada pela dor que vida provoca.
Dor dos erros, dor da ausência, dor. Esse processo pode levar dias, meses, anos... uma vida toda. Não é bom pra ninguém viver a própria vida esperando que os outros mudem, nunca espere. Aceite ou se afaste. Se você acredita sentir algo superior (como amor), guarde aquele sentimento e viva sua vida. Os filhos sempre aprendem. Algumas vezes tarde demais para a reconciliação com os pais, mas aprendem.

E o ódio? Ele está dentro de todo mundo. Ser humano também é sentir ódio, sentir raiva. Se você observar com cuidado seu interior durante o dia, vai descobrir ele lá. Entre pensametos e sentimentos. Muitas vezes motivando nossas atitudes..

As atitudes violentas? Não creio que elas sejam necessárias. Não com a intensidade e frequência com que as uso. Ser forte não é ser bravo. Uma descoberta antiga, anos de estudo sobre o tema.

Pelo menos, finalmente, isso tem se tornado verdade na minha vida, nos meus atos. É bom olhar pra si mesmo e ver que estamos melhorando.
O sonho só serviu pra me mostrar onde eu preciso trabalhar melhor, o que devo tomar cuidado. Valeu subconsciente. ;)

Eu já perdi demais na vida por me precipitar quando fico bravo. Chega!

2.11.2006

Ir além e reflexões sobre o fim da vida.

Quem treina kendô tem que sempre ir além. Após 500 suburis, quando os braços parecem não responder mais, quando o fôlego já não aguenta, quando o suor atrapalha os olhos, não devemos parar.
Fazemos mais 10 e então paramos.
Quando depois de muito tempo sentados em seiza e os joelhos, pernas e tendões doem, antes de desistirmos e mudarmos de posição, conta-se até 10 e então mudamos.

Esse treino não é um treino de orgulho, de querer ser mais do que os OUTROS. Nesse treino antes de mais nada o kendoka exercita a sua VONTADE. O lema é "mais um". Antes de desfalecer de exaustão, "mais um" suburi. Antes de morrer no meio do campo de batalha, "mais um" inimigo. Antes de desistir, tentar "mais uma" vez. Auto-superação.

Com isso o guerreiro se torna responsável por ser sempre mais do que ele mesmo. Superar-se sempre, vencer os seus próprios obstáculos. Lembro me que no filme "O último samurai" o ocidental nota que os samurais são "pessoas que se dedicam ao auto-aperfeiçoamento desde o raiar do sol até o fim do dia, em cada atitude, como se cada segundo de vida fosse um milagre".

Aplicando isso na vida, depois de praticar um pouco de kendo, o guerreiro impõe sua vontade a tudo em sua vida indo um pouco além.
Com o tempo a vontade se torna forte o suficiente para que os obstáculos sejam vencidos sempre. "Vencer [a si mesmo, eu acrescentaria, talvez ingenuamente], ou morrer tentando".

O samurai abdicava da própria vida na batalha para poder honrar ao seu clã e ao seu senhor. Certamente esse é um dos maiores exemplos de exercício da vontade.

No entanto entendo que é necessário mais força de vontade para viver corretamente do que para abdicar da vida.
["Algumas pessoas não abdicam do erro porque devem a ele sua existência". Goethe]

Certa vez ouvi de um mestre que ser samurai era:
"Fazer a coisa certa, na hora certa."

Quem pode saber quando é certo encerrar a vida? Eu arriscaria dizer que somento o criador.
No entanto em uma batalha, mais do que por honra, justiça ou lealdade, luta-se para preservar a própria vida, presente mais sagrado nos concedido pela divindade.

(Um minuto de silêncio pela alma de todos que tiveram de escolher. A própria vida ou a dos outros).

2.01.2006

Kendo não é auto-ajuda.

O post abaixo foi enviado para meus companheiros de treino no e-grupo de nosso dojo. Fiz isso atendendo solicitação do Sensei de que enviássemos por escrito o que havíamos entendido sobre o que ele falou.

"Kendo não é auto-ajuda. Kendo é muito mais do que isso. Praticando Kendo, você não será mais rico, mais feliz, mais inteligente. Kendo não ensina essas coisas. Você deve aprender primeiro o Kendo, pratica-lo direito. Talvez depois essa compreensão te ajude nessas coisas."


Cito de memória, então as palavras podem não ser exatamente essas. Foi a lição de fim de aula do Sensei.

Eu pensei um pouco sobre isso e cheguei a algumas conclusões. Não custa escreve-las aqui e coloca-las a prova. Críticas são sempre bem-vindas.

O que o Sensei Santos denominou por "auto-ajuda" nesse caso designa uma categoria de coisas bem definida. A dita "auto-ajuda" de livros chamados de auto-ajuda ou corporativos tais como "Pai rico, pai pobre", "Quem mexeu no meu queijo", etc.

Embora tais livros tenham seus méritos e seu lugar, frequentemente emprestam conceitos do Budo para ensinar as pessoas a gerenciar melhor uma empresa, terem mais sucesso com as mulheres ou fazerem mais amigos. Ex.: "A arte da guerra para gerentes".

Isso geralmente resulta em uma mutilação de conceitos muito mais profundos e consequente distorção dos mesmos.

Nesse caso, tais conceitos se tornam apenas teoria, sem uma vivência prática essencial para a compreensão completa de algo que mais do que é uma idéia, é uma experiência. Ninguém compreende Shugyo até ter tido um desmaio (ou quase) em uma aula onde deu tudo de si. Ninguém entende Mushin sem ter se deixado levar completamente pelo Ki e feito um movimento perfeito. E mesmo essa primeira compreensão pode ser aprofundada em mais e mais níveis, conforme a qualidade das experiências que vamos tendo.

Transformar Kendo, Aikido, enfim, Budo em algo para ser vendido e comprado por pessoas que não estão dispostas a se dedicar e lutar pela verdadeira compreensão dessas coisas é prostituir a arte. O "Dô" contido nessas artes significa "caminho espiritual" (a grosso modo) e o kanji que o representa é o mesmo usado para "Tao" em chinês que é o fundamento de todo o pensamento Taoísta (que não cabe ser investigado aqui). Tratar de tais assuntos levianamente é transforma-los em "conversa de boteco".

Um instrutor de Aikido muito querido que tive no passado, costumava nos repreender quando nos encontrava em "rodinhas" discutindo o que obviamente, ninguém ali havia experimentado. Geralmente na aula seguinte, convidava um dos "sabidinhos" para demonstrar o conceito que estava sendo discutido na prática perante o restante do dojo. Tais lições ficaram profundamente marcadas em mim.

Acho que é isso. Aguardo os posts de todos os companheiros de treino.

Arigatogozaimasu.

Dia 03.

"Kendo não é auto-ajuda. Kendo é muito mais do que isso. Praticando Kendo, você não será mais rico, mais feliz, mais inteligente. Kendo não ensina essas coisas. Você deve aprender primeiro o Kendo, pratica-lo direito. Talvez depois essa compreensão te ajude nessas coisas."

Cito de memória, então as palavras podem não ser exatamente essas. Foi a lição de fim de aula do Sensei.

Antes disso, falando da parte prática, ele falou que os golpes não devem ser fortes. Mas devem.

Isso me lembrou do Aikido, particularmente do que o Koichi Tohei fala sobre os 4 princípios de unificação de mente. Eu reparei em mim mesmo e nos alunos mais graduados uma mania de quando estamos tentando fazer as técnicas certas, de usar mais e mais força. Isso me pareceu resultar em algumas coisas:

- Diminuição de velocidade dos golpes. Toda vez que você golpeia com força, é difícil retomar o kamae para estar pronto para desferir outro.
- Enfeiamento. O uso da força resulta em um golpe bruto, com menos beleza e mais agressividade.
- Perda de foco. Quando estou me esforçando para me "corrigir" e uso cada vez mais força, a visão se estreita e torna-se difícil localizar em quê exatamente estou errando, quando mais corrigir. Além do mais, do esforço exagerado nasce junto uma insegurança que na minha opnião mina qualquer possibilidade de acerto.

O Sensei tem sido atencioso, dedica alguns minutos sempre aos alunos menos graduados. Eu tenho sido agraciado com isso. É altamente gratificante ter alguém com tanto conhecimento fazendo questão de guiar meus passos. Ele poderia muito bem, designar um "senpai" (aluno mais experiente) para isso. É uma honra e procuro dar o melhor de mim para merece-la.

Hoje tenho que resolver algumas coisas relativas a mudança de apartamento. Organizar a minha bagunça que sei estar incomodando uma pessoa da casa. É importante fazer as coisas certas em toda a vida.

Antes de começar a treinar, um dia que fui a um happy hour do pessoal do dojo, Sensei falou que não era problema faltar nas aulas desde que soubéssemos estar fazendo algo importante, não qualquer coisa. Acho que hoje é o caso. Organizar minhas coisas é importante por várias razões.

Primeiro para não quebrar a Wa (harmonia) do lugar onde moro. Muitas pessoas em uma mesma casa (6!) torna um pouco difícil a convivência, logo devo me esforçar ao máximo para contribuir. Segundo, organizar as minhas coisas é também um exercício de organizar a mente, sincronizá-la com as mudanças que tem acontecido e fazer planos para as que estão por acontecer. Essa energia colocada em "organização" acaba por inércia se estendendo para outros setores da vida.

Acho que não haverá aula sábado, tem campeonato em São Carlos, estou tentando combinar com um colega de trabalho (que é de lá) para ir assistir. Se quero levar esse caminho a sério, faz-se necessário assumir mais e mais compromissos (internos e externos) com a arte, com os companheiros de prática, com o Kan (escola).

Por hoje é só.

1.28.2006

Dia 02.

Antes: Banho frio, 5 respirações, um pouco de dores musculares do último treino. Um pouco de desânimo. Chegando lá isso passa. Ainda não arrisco treinar nada fora da aula (suburi e afins) deixa eu me ambientar melhor primeiro e construir o mínimo de estrutura muscular necessária. Quando o corpo parar de doer é porque está na hora de forçar um pouco mais.


Durante: Exaustão, uma sensação de que eu não sou mais o dono do meu corpo. Não sei o que se move quando chego nesse ponto, mas não sou eu. Uma força estranha dirige meus movimentos, meu kiai, meu olhar. De onde brota isso?

Sensei permitiu que eu fizesse suburis todos os dias. Agora o mais difícil vai ser criar a disciplina.

Hoje ele falou sobre fazer o NOSSO kendo. Eu resumi a coisa assim.

Os fins não justificam os meios porra nenhuma. Não importa o resultado final se vc adquiriu por meio ilícitos. Nós somos o que fazemos, não o que conquistamos.

Mas isso de alguma forma eu sempre soube. Budo é a viagem, não o destino.

Se vc dá um passo atrás do outro e sabe onde quer chegar, o resultado é inevitável.

É impossível derrotar o universo.

Universo = Amor

Não confundir esse amor com fraqueza. O universo que dá água fresca é o mesmo que manda a Tsunami. Criação e destruição são parte do ciclo.

Chega de filosofia.

1.27.2006

Insônia.

Curioso, sono e cansaço não foram suficientes pra resolver o meu problema de insônia. Aí ontem sair com minhas amigas, e tomar umas foi.

Acho que o problema não era o corpo, era a mente. Tem que ter um jeito melhor de ter controle sobre o meu sono que não enchendo a cara...

Fica a questão...

1.25.2006

Começo

A postura do kendo é: espírito e corpo livres, o olhar fixo.
Kendo começa com cortesias, e termina com cortesias.

Antes de ir banho frio, chá gelado de carqueja, respiração (3 repetições, pra começar leve) de Nishino-ryu (primeira respiração).
Um pouco de ansiedade.

Durante, um pouco de impaciência, um pouco de cansaço, muita energia. Esqueci dos problemas, do trabalho, das pessoas (todas). Absorveu-me completamente.

Depois, escrever aqui, banho quente, comer algo leve (pão de queijo).
Se isso não resolver minha insônia (faz 3 dias que eu não durmo antes das 2h, tenho acordado as 7h), nada mais resolve, amanhã eu conto.

2.11.2005

Morrer

Somente morrendo podemos nascer de novo.

10.19.2004

Recomeço

Quando esse blog foi criado. O comentário que eu deixei nos detalhes foi: "Anotações de um Ronin". Eu já intuia o que havia por vir. Mais Ronin do que nunca, após o período de desnorteamento e confusão, começo a vislumbrar que, na verdade, ninguém tem mestres. Todo crescimento nasce de um impulso pré-existente dentro de si. Alguns chamam de Deus, outros de inteligência, outros não chamam mas pressentem sua existência ainda que tentem ignora-la com todas as suas forças.

De meu antigo mestre, a maior lição. "Existe um ponto onde poder e conhecimento se separam".
Esse ponto é o AUTO-CONHECIMENTO. Ignorar o auto-conhecimento é o caminho pro inferno. Mais poder só nos leva mais rápido para lá.

11.05.2003

Força

Há pessoas habilidosas e outras menos. Aqueles que parecem ser bons e fortes nem sempre o são. Mesmo que alguém demonstre uma técnica poderosa, seu valor é relativo porque sempre poderá enfrentar uma mais forte. Assim, é no espírito que reside as profundezas da técnica.
A força é desenvolvida através do treinamento contínuo. Isso permite adquirir resistência e paciência, qualidades esprituais que ajudam a fortalecer e controlar o próprio corpo. Em outras palavras, quando mente e corpo trabalham juntos, os efeitos se multiplicam. Aqui está um exemplo. Desenhe um círculo. Repita continuamente este círculo, desenhando um sobre o outro. O que acontece? A massa de círculos desenhados se transforma em uma esfera. Uma esfera é livre para girar em qualquer direção enquanto permanece estável e poderosa.
O Aikido não depende de força física ou talento mas de correto e contínuo treinamento. Prática ininterrupta requer paciência e conduz a um estado de resistência física e espiritual. A força real será adquirida enquanto se cultiva a habilidade da mente em controlar o corpo livremente.

Depois da queda...

Depois da queda o sangue,
depois do sangue a cura.
Tomando o chão como mestre de humildade, vida.
Depois da queda levantar-se.
Suavemente, sem barulho ou estardalhaço,
olhar para frente e para dentro
mais uma vez.

Tornar-se homem, buscar a força e vencer a inércia e solidão.
Abandonar as teorias e os conceitos.
Tranformar as prioridades práticas.
Buscar o espírito, o exemplo, os mestres.

5.28.2003

Te dou o dia de hoje. Por Norton Morais.

Domo Arigato Gozaimashita Norton Sama. Por tudo.

Moreno Garcia

"Te dou o dia de hoje
para que enterres seus mortos,
aprendendo assim que nada tem sentido, que sinta falta deles e mesmo assim lastime os dias que passaram juntos.

Te dou o dia de hoje
para que chores de amor,
na dor da saudade, na desilusão do desencontro, da perda e do abandono.

Te dou o dia de hoje
para que carregues o ódio em seu coração,
dele faça a arma e com a sua justiça destrua tudo ao seu redor.

Te dou o dia de hoje
para que possas ser maior que os outros,
e com sua arrogância possa pisar nos que você acha que são inferiores a ti, desconheças outras vidas e use outros corpos para satisfação do seu ego.

Te dou o dia de hoje
para que se embriague, que use qualquer recurso para perderes o sentidos,
fugindo da realidade que tanto lhe atormenta a alma.

Te dou o dia de hoje
para que sintas pena de ti , para que se escondas, fuja de seus compromissos seja eles quais forem, usando sua fraqueza como escudo da companheira covardia.

Te dou o dia de hoje
para que penses somente no dinheiro,
porque na verdade somente ele lhe dará satisfação e conforto e sem ele não poderá ser nada que pensam de ti.

Te dou o dia de hoje
para manter-se longe de todos,
a distância daqueles que querem de ti o que tens tão pouco.

Te dou o dia de hoje
para ser juiz e carrasco ao mesmo tempo
e com a malicia das palavras possa envenenar aqueles que ousaram questionar suas certezas.

Te dou o dia de hoje
para que oprima e se revolte com os que te amam,
pois quem ama sempre te dará uma nova chance para mostrar o poder que tem seus atos e palavras para tocar a ferida que bens conheces.

Te dou o dia de hoje
para que se acovarde, sinta ódio, rancor, pena, não tenha fé nem esperança,
porque nada vale a pena no dia de hoje... porque ele te pertence.

:

Retiro o dia de hoje
porque o milagre da vida lhe acompanha, e olhando para o céu, respiras mais um dia e tem uma oportunidade de saudar os que se foram com as lembranças alegres que tanto ajudaram no seu caminho.

Retiro o dia de hoje
porque você amou e foi amado,
e amando procurou melhorar seus atos entender e receber uma outra pessoa tão diferente de ti, e sendo assim ver somente as qualidades e ser cego aos defeitos, e quando fostes amado, sua imperfeições foram deixadas de lado e recebestes a chama terna do amor.

Retiro o dia de hoje
porque o perdão bate a sua porta, e basta um pequeno gesto para que uma pontinha do que é a felicidade se instale em seu coração
no perdão aos outros e a ti.

Retiro o dia de hoje
porque as pessoas precisam de simples gestos, sorrisos para que sejam aceitas e passem a existir para você... olhe ao redor o mundo é feito de várias almas a procura de carinho.

Retiro o dia de hoje
porque alguém espera um pequeno gesto seu, um afago, uma palavra
um abraço , para que um muro de indiferença se desmorone aos seus pés e possa ter um horizonte mais amplo do que seu egoísmo.

Retiro o dia de hoje
porque seu corpo é sagrado, morada do sopro divino, imortal
e que não foi colocado no barro que é seu corpo para satisfação
somente de seu instinto, mas para seu aprendizado e crescimento espiritual.

Não te dou nada nem te retiro, não possuo esse poder e nem o quero, somente os minutos que passas com seus pensamentos e que podes fazer essas escolhas, ao ego é dado a ignorância dos sentidos, para que suas ações sejam as chamas que forjam o aço de sua alma.

Somente ao perder e não ao receber é que no arrependimento e na humildade aprendas a valorizar o dia que pode ser tão nosso sem valor ou conquistado na difícil tarefa de viver com tantos obstáculos, mesmo assim agradecermos e buscarmos o amor.


Faça a sua escolha

Norton J. de Morais
19/05/03

3.30.2003

Sofismas

"Mesmo o mais prosaico dos indivíduos pode fazer uso do sofisma diariamente -- e o faz na maioria das vezes. O que é o julgamento da vida alheia senão uma conclusão apressada que se baseia em evidências visuais? Quando vemos um sujeito ao volante de um carro importado, rapidamente somos levados a acreditar que se trata de um cidadão rico -- e daí para encará-lo como alguém que se beneficia da desigualdade social, é um pulo. Quando vemos um mendigo pedindo esmolas, elaboramos idéias a respeito de sua condição econômica, cultural e social, concluímos: "É um bêbado", "É um ignorante", "É uma vítima do sistema" ou coisas do gênero. No mais das vezes, há alguma veracidade nessas conclusões, mas tomá-las como verdades definitivas -- possibilidade que o sofisma sempre oferece -- significa coisificar a pessoa, dispensar seu lado mais humano e verdadeiro. Em outras palavras, com um sofisma nas mãos, poucas pessoas pensarão em olhar com mais cuidado o sujeito que foi julgado."

Christian Rocha

http://www.chris.idz.net/

3.27.2003

Funcionamento do corpo.

Para seu perfeito funcionamento
o corpo necessita de movimento.
Mas movimento ordenado,
sem sacrifícios.
O esforço faz bem,
desde que o prazer o acompanhe.
O perfume da natureza,
o frescor da brisa,
as cores do dia
transformam o esforço
num conjugado de
movimento-mentalização-espiritualidade.


Nuno Cobra (A Semente da Vitória)

12.14.2002

Os Princípios do Aikidô

Os Princípios do Aikidô tais como ensinados pelo Fundador

01. O Aikido é o caminho que reúne todos os caminhos do universo por toda eternidade; é a Mente Universal que encerra todas as coisas e a todas unifica.

02. O Aikido é a verdade ensinada pelo universo e deve ser aplicada à nossa vida na terra.

03. O Aikido é o princípio e caminho que unem a humanidade à Consciência Universal.

04. O Aikido se realizará plenamente quando cada pessoa, seguindo seu verdadeiro caminho, se tornar uma só coisa com o universo.

05. O Aikido é o caminho de força e compaixão que conduz à infinita perfeição e a glória crescente de Deus.

Do livro Aikido e a Harmonia da Natureza de Mitsugi Saotome

11.25.2002

O líder.

O comandante é o equilíbrio da carruagem do Estado. Se este equilíbrio estiver bem colocado, a carruagem, isto é, a nação será poderosa; se o equilíbrio estiver defeituoso, a nação, certamente, será fraca.

Sun Tzu

11.21.2002

Jornada

Falando com o vento,
na baixa planície,
um guerreiro só possui sua espada companheira*.

Ele contempla a entrada de um abismo, uma caverna,
onde reside o desconhecido
mas ele nada teme.

Penetra passo a passo,
cada vez mais fundo,
e sobrevive a cada teste e cada perigo.

Lá no fundo, o fim e uma lagoa,
iluminada levemente pelo luar através de um fenda,
ele olha a lagoa e vê.

Sente o seu maior medo
como nunca antes,
e perde o controle.

Corre desesperadamente,
e ao sair da caverna, olha para trás
e compreende.

É encontrado caído, com o ventre aberto
e sua espada companheira nas mãos.

O bravo guerreiro foi derrotado
pela primeira e última vez...


Moreno Garcia