Katatetori
Após a meditação (mokuso), as reverências iniciais (Rei - o "r" pronuncia-se como em arara) e o aquecimento, meu Senpai (instrutor sênior) começava a aula sempre com a mesma técnica. Técnica essa que consistia em, ao ser segurado em um dos braços, girar o corpo de forma a se colocar ao lado do oponente. Controlando o Uke através da própria força dele.
A despeito de quão forte o oponente seja, ele não consegue evitar que o Nague se movimente de forma livre. Ao contrário, quanto mais força ele faça para segurar e impedir o Nague de se movimentar, mais o Uke fica preso e sujeito a vontade do Nague.
Geralmente o Senpai escolhia o aluno mais forte presente como Uke para demonstrar. Antes mesmo de iniciar a técnica, após o Uke segurar o seu braço ele perguntava (dirigindo-se aos alunos mais novos):
- Quem está preso?
A resposta era sempre:
- Você, ué.
Ele sorria e executava a técnica o mais lenta e suavemente possível. Do outro lado, o Uke se esforçava visivelmente para tentar impedi-lo. Suava, bufava, ficava roxo (algumas vezes, a mão do senpai também ficava roxa de tanto que o Uke apertava seu braço). Não importando quanta força ele usasse, era inútil. Ao final da técnica, a cena era quase cômica. De um lado o instrutor sorrindo, em pé, completamente relaxado. Do outro, o Uke, com os músculos completamente tensionados, quase ajoelhado e totalmente a mercê do Nague.
O Senpai perguntava novamente:
- Quem está preso?
E os novatos respondiam em uníssono:
- Ele.
Quantas vezes sofremos simplesmente por estarmos presos? Apegados a pessoas, lugares, sentimentos, acreditamos estar prendendo, quando na verdade somos nós os prisioneiros. Quanto mais tentamos controlar, mais somos controlados. Quanto mais força opomos, menos autonomia temos.
No filme "Clube da Luta" Tyler Durden constata: Quando possuimos muitas coisas, essas coisas acabam nos possuindo. Quantas pessoas são escravas de "ter o poder"?
Lembro-me de um dia em que Senpai mostrou o seguinte.
Colocando-se na posição de Uke, segurou meu braço. Quando comecei a executar a técnica, ele simplesmente soltou o meu braço e sorriu. Eu não poderia controlá-lo se ele não me segurasse. A lição ficou clara.
Libertar às vezes é a melhor forma de tornar-se livre.
Domoarigato Senpai.
Esse post é para um amigo de Santos e uma amiga de São Paulo que trilham caminhos muito semelhantes ao meu. É uma honra poder compartilhar essa trilha com vocês. Arigato.
A despeito de quão forte o oponente seja, ele não consegue evitar que o Nague se movimente de forma livre. Ao contrário, quanto mais força ele faça para segurar e impedir o Nague de se movimentar, mais o Uke fica preso e sujeito a vontade do Nague.
Geralmente o Senpai escolhia o aluno mais forte presente como Uke para demonstrar. Antes mesmo de iniciar a técnica, após o Uke segurar o seu braço ele perguntava (dirigindo-se aos alunos mais novos):
- Quem está preso?
A resposta era sempre:
- Você, ué.
Ele sorria e executava a técnica o mais lenta e suavemente possível. Do outro lado, o Uke se esforçava visivelmente para tentar impedi-lo. Suava, bufava, ficava roxo (algumas vezes, a mão do senpai também ficava roxa de tanto que o Uke apertava seu braço). Não importando quanta força ele usasse, era inútil. Ao final da técnica, a cena era quase cômica. De um lado o instrutor sorrindo, em pé, completamente relaxado. Do outro, o Uke, com os músculos completamente tensionados, quase ajoelhado e totalmente a mercê do Nague.
O Senpai perguntava novamente:
- Quem está preso?
E os novatos respondiam em uníssono:
- Ele.
Quantas vezes sofremos simplesmente por estarmos presos? Apegados a pessoas, lugares, sentimentos, acreditamos estar prendendo, quando na verdade somos nós os prisioneiros. Quanto mais tentamos controlar, mais somos controlados. Quanto mais força opomos, menos autonomia temos.
No filme "Clube da Luta" Tyler Durden constata: Quando possuimos muitas coisas, essas coisas acabam nos possuindo. Quantas pessoas são escravas de "ter o poder"?
Lembro-me de um dia em que Senpai mostrou o seguinte.
Colocando-se na posição de Uke, segurou meu braço. Quando comecei a executar a técnica, ele simplesmente soltou o meu braço e sorriu. Eu não poderia controlá-lo se ele não me segurasse. A lição ficou clara.
Libertar às vezes é a melhor forma de tornar-se livre.
Domoarigato Senpai.
Esse post é para um amigo de Santos e uma amiga de São Paulo que trilham caminhos muito semelhantes ao meu. É uma honra poder compartilhar essa trilha com vocês. Arigato.