5.08.2006

Do espírito da casta samuraica - A Espada imaterial

Inspirado num texto que escrevi em agosto de 2004, inauguro minha participação neste blog.

Uma das acepções do Budô indica que ele é o rumo espiritual que todo guerreiro deve imprimir à sua vida. Aos que não são rigorosamente guerreiros, o Budô também tem sua função porque ensina sobre a batalha de cada dia que os seres humanos têm de enfrentar, donde poucos saem vitoriosos. Assim como todos os atributos humanos, a inclinação à vida combativa não nasce com todas as pessoas. Alguns espíritos tem tendência natural à belicosidade e podem se tornar brigosos. Se junto a essa tendência houver um certo retraimento e introspecção meditiva de modo a levar o sujeito à reflexão sobre os pensamentos fundamentais que o movem, haverá grande possibilidade dele se tornar um samurai. Samurai no sentido que aqui emprego, é o que decorreu das minhas vivências no Budô, e o que aprendi com meu Sensei. O texto que vou reproduzir traz um pouco da minha visão sobre o assunto, anterior ao meu treinamento de Kendô mas bem encaminhada, segundo percebo agora.

Lá vai:

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Citações

"Dizem que o caminho do guerreiro é [o] caminho da pena (ou da palavra) e da espada, e que ele deve apreciar ambas as coisas. Mesmo que um homem não possua nenhum talento natural, pode tornar-se um guerreiro se aderir assiduamenteàs duas divisões do Caminho"


"O princípio da estratégia é ter uma coisa, conhecer dez mil coisas"


"Familiarize-se com todas as artes... [e]... Conheça os Caminhos de todas as profissões"

"Controle os ânimos; não se permita extremos. Tanto em êxtase quanto em profunda tristeza o espírito enfraquece."


"Cultive a sabedoria e o próprio espírito. Dê polimento à sabedoria: aprenda sobre a justiça, distinga entre o bem e o mal, estude os Caminhos de diferentes artes, uma por vez."


O Livro dos Cinco Anéis - Miyamoto Musashi

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No Japão, por volta do século XVII, a perícia com a espada e a leitura dos clássicos do período Tokugawa formava o modus vivendi da jovem nobreza. Era a casta da pena e da espada. Ela tornou o Japão célebre pelos seus feitos em guerras.

O citado Mestre Musashi era um Ronin vivendo numa época cheia de Ronins. Estes guerreiros vagantes e sem destino acabavam se tornando perigosos. Tornavam-se cada vez mais uma ameaça ao próprio povo [que deveriam defender]. Eles não compreendiam que a espada que eles viam é um analogante. [A compreensão mais valiosa estava no analogado - esse era o segredo dos Mestres]. Os guerreiros comuns davam maior valor à espada do que à pena. Musashi compreendeu. Utilizou o Caminho em todos os aspectos de sua vida, se destacando no Desenho e Pintura, na Literatura, na Caligrafia, na Política, na Espiritualidade, na Música - diz-se que Musashi tem talentosas composições -, na própria espada analogante etc. Hoje não há lugar para as espadas analogantes. A consistência da Estratégia só pode ser experimentada pela Espada imaterial.

Viver sem interrupções essa compreensão é se tornar um Samurai. A isso eu aspiro.